Como imitar a Cristo com mais que palavras?

"Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo." (1 Coríntios 11:1)

Quando você leu essa frase memorável, talvez veio à sua mente os ensinamentos de Paulo. No entanto, mais do que escrever e ensinar, ele mostrou o caráter de Cristo em suas atitudes.

Esse é um versículo que muito tem se falado entre os cristãos, tanto na internet por meio de memes ou vídeos mais sérios, quanto na vida fora dela. É um versículo simples, mas muito impactante, porque Jesus foi perfeito e imitá-lo parece impossível.

É interessante entender o contexto desse escrito de Paulo. Ele falava da liberdade cristã. Um pouco antes no capítulo 10, ele trata dos assuntos pertinentes àqueles que comiam comidas sacrificadas aos ídolos, e lá existe outro versículo também muito conhecido:

"Tudo é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo é permitido", mas nem tudo edifica. (1 Coríntios 10:23)

Lendo o capítulo 10, podemos entender que Paulo estava falando sobre o que nós fazemos. Sendo assim, nossas atitudes devem glorificar a Deus e não escandalizar nossos irmãos. Porque o que fazemos deve ser pensado neles e não em nós mesmos.

Também eu procuro agradar a todos de todas as formas. Porque não estou procurando o meu próprio bem, mas o bem de muitos, para que sejam salvos. (1 Coríntios 10:33)

Existiam muitos problemas na igreja de Corinto, assim como em todas elas. Mas lá podemos ver alguns, como por exemplo, na ceia dos irmãos, uns passavam na frente dos outros e comiam tudo. Por isso existe o ensinamento que lemos nos cultos de Ceia: esperarmos uns pelos outros.

O amor ao próximo deveria ser a prioridade. E também o cuidado em levar as pessoas a Cristo. Paulo ensinava essas coisas, mas também ele mostrava em suas atitudes.

Na carta aos tessalonissences, lemos que Paulo usava a si mesmo como exemplo, dizendo que trabalhava para seu próprio sustento, mesmo sendo missionário e podendo depender da Igreja por isso.

"Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. Sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós. Irmãos, certamente vocês se lembram do nosso trabalho esgotante e da nossa fadiga; trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a ninguém, enquanto lhes pregávamos o evangelho de Deus. Tanto vocês como Deus são testemunhas de como nos portamos de maneira santa, justa e irrepreensível entre vocês, os que crêem. Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória." (1 Tessalonicenses 2:7-12)

Mas olhando para todas as cartas que ele escreveu, e toda sua trajetória descrita na Bíblia, o maior exemplo que posso ver nele como fiel imitador de Jesus está em sua menor carta: Filemom. Uma história verdadeiramente cativante.

Paulo direciona essa carta a Filemom, um senhor de escravos, e para que você possa entender essa história, entenda que na época a escravidão era algo comum e cultural. E a Igreja, invés de tentar uma rebelião, procurou tratar do assunto apresentando, tanto ao senhor quanto ao escravo, os princíprios e condutas cristãos mesmo nessa situação, até que por fim isso acabasse. 

"Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo. Obedeçam-lhes não apenas para agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Sirvam aos seus senhores de boa vontade, como ao Senhor, e não aos homens, porque vocês sabem que o Senhor recompensará a cada um pelo bem que praticar, seja escravo, seja livre. Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas." (Efésios 6:5-9)

Aí ele estava falando sobre senhor e servo, porém nós podemos trazer esses ensinamentos para nossa vida profissional também. Se pensarmos em patrão e empregado, tudo o que fazemos também deve ser para glorificar o nome de Deus.

E essa atitude diferenciada não deve vir só por aparência ou para ganharmos uma promoção, porque se pensarmos assim, só nos frustraremos. Mas se fizermos com sinceridade e procurando demonstrar o caráter de Cristo, não existe frustração.

Agora, continuando a história bíblica, temos Onésimo, que era escravo e aparentemente fugiu de Filemom. Nessa fuga, de alguma forma, conheceu Paulo, se converteu e virou um grande auxiliador no ministério deste.

Mas Paulo sabia do ocorrido e sua atitude de imitador de Cristo não deixaria que ele não resolvesse essa situação para que tudo viesse a ser feito com justiça. 

Pela lei romana o escravo ainda pertencia a Filemom e mesmo que ele voltasse, ainda ficaria em dívida pelo tempo ausente. Mediante essa situação, Paulo teve uma atitude que demonstra ser verdadeiramente um imitador de Cristo. Ele manda Onésimo ao seu senhor novamente, mas com uma carta, explicando que o mesmo foi alcançado por Cristo e pedindo para recebê-lo, agora não como escravo, mas como um irmão em Cristo. E que se tivesse qualquer dívida, ele mesmo assumiria.

Disso podemos tirar dois aprendizados:

1

Onésimo aceitou voltar. Agora transformado pelo evangelho, ele sabia que era necessário voltar e que também era preciso acertar as contas com seu senhor, irmão em Cristo.   

Acredito que ele não voltou a ser escravo, mas essa não era a maior preocupação dele, pois já havia sido liberto do peso da lei e da carne por Cristo. Mesmo que ele voltasse a ser escravo, seria livre.

Podemos aprender com isso que, se deixarmos o evangelho nos transformar por completo, independente da situação, local de trabalho, estudo, moradia, salário ou qualquer outra coisa que nos preocupe, ainda podemos levantar as mãos para o céu e dizer:

"Eu sou livre, porque Cristo me libertou! Ele tirou o jugo da lei e do pecado dos meus ombros porque Ele levou sobre si. Pagou minha dívida na cruz."

2

Paulo demonstra como o poder do evangelho pode mudar o homem. E mais que uma pregação, as atitudes podem ser lições transformadoras na vida de quem as vê. Sendo assim, Paulo faz o que Cristo fez por nós. Onésimo estava distante do seu senhor, mas Paulo o colocou como intermediador para reconstruir essa relação, pagando toda dívida. E Onésio passou de escravo a irmão de Filemom.

Cristo veio ao mundo para religar o homem com Deus. Estávamos distantes Dele por causa do pecado, estávamos em dívida, condenados... mas Jesus pagou toda dívida. E de criatutas fomos feitos filhos de Deus por adoção.

Podemos estar há muito tempo servindo a Deus, mas muitas vezes vivemos mais a religiosidade do que o evangelho de Cristo. Somos os primeiros a condenar, os primeiros a rejeitar um pedido de ajuda, mas sabemos que Ele demonstrou na cruz que é preciso amar. 

E o amor requer sacrifícios. Que sacrifiquemos nosso ego, razões, orgulho, prazeres, para que as pessoas a nossa volta vejam Cristo em nós.

Tudo que fazemos precisa ser para glorificar a Deus. Todo mundo sabe o que faz e nem tudo é certo ou errado, mas o Espírito Santo é quem dá clareza sobre tudo e nos muda. Isso acontece quando reconhecemos que somos pecadores e damos espaço para Ele em nossa vida.

Então, se você está na Igreja há muito tempo ou nunca foi, saiba que não há nada impossível para Deus. Até mesmo alguém que já morreu há quatro dias foi trazido de volta, então imagine o que Ele pode fazer na sua vida, com seus problemas que às vezes só são grandes porque você não comparou-os com a grandeza de Deus.